terça-feira, 26 de abril de 2011

COMPETÊNCIA TÉCNICA X COMPETÊNCIA COMPORTAMENTAL

 

Este post foi inspirado em uma situação interessante que me ocorreu quando  ainda atuava como consultor independente.  Na época eu  fazia trabalhos de recrutamento e seleção, e me apareceu como cliente um senhor, gerente de uma pequena distribuidora , procurando uma secretária para atender seus principais clientes e fornecedores.
Como jovem consultor que eu era, e querendo mostrar serviço, fiquei bastante focado em fazer uma ótima análise técnica do currículo de cada candidata que encontrei, buscando aquelas com maior experiência e conhecimento de ferramentas relacionadas a secretariado. O problema é que, dias depois, meu prazo estava quase esgotado e eu tinha apenas 2 candidatas consideradas boas, sendo que pelo contrato ,eu deveria apresentar pelo menos 3, para que o cliente escolhesse uma.
Sem conseguir achar uma terceira candidata que estivesse 100% ao meu gosto, resolvi inserir no processo uma jovem muito simpática, mas com menos experiência, imaginando que seria imediatamente descartada perante as outras.
Qual não foi então minha surpresa quando, ao me chamar no escritório, o cliente disse que a escolhida era a jovem simpática com pouca experiência. Justamente a que eu julgava menos indicada!
Como sou muito curioso e fiquei realmente surpreso, a conversa que se seguiu foi mais ou menos assim:
__ Então o Sr. escolheu a candidata X, fico feliz que tenha gostado, mas por curiosidade, esta candidata me pareceu a menos experiente das três…
__ E é! _ retrucou o cliente.__.
__ Mas então o Sr. está ciente de que escolheu a menos experiente! Considera que as outras estavam muito qualificadas para a posição?__.
__ De forma alguma, as outras eram tecnicamente adequadas, mas não demais. Apenas escolhi a terceira por ser a melhor!__.
__ O Sr. me perdoe a curiosidade, mas se é a menos experiente, o que faz dela a melhor? __ .perguntei.__.
__ Isto é simples; ela é a mais simpática e de melhor temperamento, além de muito esperta! Aliás, das outras duas, uma é medianamente simpática, e a outra me parecia altamente entediada com a vida __.
__ Entendo – disse eu – mas o Sr. prefere uma pessoa simpática do que alguém tecnicamente mais capacitado?__.
__ Para este cargo, com certeza!  Você está surpreso?__.
Naturalmente respondi que sim. Ele então se recostou na cadeira, me olhou sorridente e me  disse o seguinte:
__ Bruno, minha secretária deve ser, acima de tudo, alguém de temperamento agradável e com inteligência e disposição para aprender. Precisa ser uma pessoa aberta e alegre. Logicamente preciso também que seja alguém tecnicamente capacitado. Agora, se eu não consigo alguém com tudo isto, eu escolho quem tem melhor temperamento e é mais simpático, deixando o aspecto técnico em segundo lugar. Sabe por quê?__.
__ Posso talvez imaginar, mas gostaria de ouvir…
__ Porque se você me der uma pessoa simpática, bem- humorada e aberta a novidades,  porém pouco  experiente tecnicamente, eu levarei mais menos uns 2 meses para conseguir transmitir a ela o conhecimento técnico-operacional necessário ao trabalho. Agora, se você me trouxer alguém exímio tecnicamente, mas de humor enfadonho ou temperamento hostil, eu não consigo mudar isto nem em 20 anos!
Nunca mais esqueci as palavras deste senhor; e hoje em minha posição de gestor de pessoas vejo o quanto ele estava certo. É óbvio que para muitos cargos, principalmente os altamente especializados, o conhecimento técnico pode vir a falar mais alto que o lado comportamental; mas isto apenas quando não há opções. Mais do que pessoas apenas exímias tecnicamente, o que se busca hoje são pessoas agradáveis comportamentalmente.

Posted on 01 June 2010 by Bruno Soalheiro

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